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Texto: Denise Gadelha para exposição coletiva na Fauna

agosto, 2014



"OUTROS ENTRE OUTROS"

Alguns artistas entre outros que compartilham relações em comunidade e estimam a força da ação conjunta resolveram apresentar seus trabalhos nesta exposição coletiva.

A partir de 07 de agosto, a Fauna Galeria será ocupada por proposições multifacetadas ecoando o diálogo entre pesquisas visuais dos sete artistas: Ana Zveibil, Christina Meirelles, Denise Gadelha, Graziela Pinto, Helen Faganello, Leka Mendes e Fellipe Segall.

De um modo geral, todos aqui reunidos, exercitam outros modos de lidar com a imagem fotográfica. Adotam perspectivas alternativas intuídas em metodologias experimentais. Interagem com outras consciências plásticas articulando a fotografia em linguagens híbridas. Elaboram projetos fotográficos contaminados por mídias artísticas diversas como a pintura, escultura, desenho, cinema... Além disso, se valem de outras classes de procedimentos operacionais tais como, a apropriação, assemblage, seriação, interferência, instalação, etc. 

Podemos discernir muitas linhas de afinidade que tecem aproximações entre as obras que compõem a mostra. As propostas partilham um interesse especial em relação à paisagem. É também frequente a presença de ambiguidade entre a tridimensionalidade e a bidimensionalidade do suporte fotográfico. Outro assunto em comum, cuja recorrência não é tão facilmente reconhecível, perpassa o amplo tema da “coleção”, manifestado sob os mais variados aspectos em cada uma das pesquisas expostas. 

O trabalho Nada Além de Ana Zveibil apresenta uma coleção de fotografias retratando paisagens tomadas em vários países, cruzando continentes em diversas condições temporais. A comparação gerada pelo contraste plural entre as imagens, ao mesmo tempo similares e díspares, nos fornece um panorama que poderia estender-se infinitamente. Um horizonte que é sempre o mesmo e outro.

Já o trabalho Estatigrafia de Leka Mendes, ao contrário, concatena registros de um território em particular, a Islândia. Literalmente, o terreno é o foco do ensaio fotográfico que reúne imagens-amostras dispostas em uma pilha vertical, análoga ao modelo estratigráfico empregado para ilustrar a composição das camadas do solo. Aqui, a compilação de dados imagéticos são condensados poeticamente em uma estrutura retilínea, pragmática. 

Denise Gadelha, por outro lado, distribui fotografias diretamente sobre a parede em um mosaico irregular criando formas complexas que aludem aos altos e baixos do relevo da paisagem ali representada. A recomposição do cenário agrupa os fragmentos misturando imagens fotográficas capturadas em momentos distintos e simulações produzidas virtualmente no aplicativo Google Earth 3D.

Fellipe Segall extrai imagens do mundo que parecem pertencer ao universo dos arquétipos partilhados inconscientemente. Sua atitude ambígua transita entre a apropriação e a mimese, habitando uma zona nebulosa em que frames de filmes convivem com cenas da vida real feito estereótipos. Pequenos detalhes na ambientação evocam uma narrativa em suspensão, incitam a complementação pela imaginação. 

Na sua instalação, Graziela Pinto se utiliza de elementos da natureza, assim como de objetos de forma esférica, objetos apropriados e outros construídos por ela, elementos esses que serão organizados experimentalmente em suspensão no espaço através de tecidos ou fios. Em outro trabalho, ela mostrará registros fotográficos de intervenções com elementos estranhos à realidade da paisagem.

No caso dos trabalhos de Christina Meirelles a ideia de coleção estaria menos associada ao assunto formulado em cada obra em si, do que atribuída ao conjunto total de sua pesquisa estética. A extensão do seu repertório consolida uma coletânea insaciável de abstrações derivadas de índices de realidade (fotografias) manipuladas digitalmente. A estratégia atinge a síntese máxima do elemento básico que simboliza essencialmente uma paisagem: a linha do horizonte. No entanto, Chris Meirelles multiplica infinitamente tal singularidade estabelecendo um campo abstrato, onde a orientação do que está acima ou abaixo é perturbada, bem como, a distinção entre o que está na frente ou ao fundo.

Helen Faganello convida o espectador a penetrar nos espaços existentes no seu “gabinete” repleto de espécies vegetais e alguns objetos, ali a sensação de tridimensionalidade se faz sentir por todo o ambiente interno. Uma planta de dimensões agigantadas se mistura à parede , se fixa nela, sua semelhança a outras presentes no gabinete, potencializa o pensamento que permeia os dois trabalhos apresentados. Paira no ar uma sensação de lugar desconhecido, talvez outro tempo, tempo real ou imaginado? 


 

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