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Texto Ding Musa _ Setembro 2024
O mundo gira. Nós giramos junto? Há algum tipo de delay entre nós e o mundo, vide a forma catastrófica como nos relacionamos com os recursos do planeta. Mas essa é só uma maneira de notar o evidente descompasso entre os giros dissonantes dos seres humanos com o mundo. Há muito, mas principalmente a partir da herança iluminista, nos dissociamos na forma de girar do resto do universo. Fosse essa uma maneira de reconhecer nosso próprio movimento rotacional como algum tipo de giro que se faz único mas que contribui dentro de um contexto para um giro maior... mas o fato é que nos distanciamos da visão que pode nos enxergar como parte de um todo. O ser humano se encontra em um momento único da história, onde a retomada de sua conexão com o natural se mostra cada vez mais incontornável para continuidade da sobrevivência de nossa espécie. O Trabalho de Leka Mendes nos faz lembrar de que tudo que existe está conectado, faz parte de um universo maior, funciona como uma peça de um motor ou de quebra cabeças. Mas não como peças que pertecem a um lugar específico, como em um motor ou um quebra cabeças e que poderiam ser consideradas em lugar "errado" quando fora de sua posição supostamente designada quando este quebra cabeças ou esse motor se encontrassem, por exemplo, desmontados. Pelo contrário, com suas analogias a sistemas solares, planetas, galáxias e quem sabe a sistemas de classificação, relações químicas, biológicas, sociais... Leka nos faz voltar a um tempo onde tudo pode, novamente, fazer sentido em conjunto. O quebra cabeças existe montado, semi montado e completamente desmontado, são todas formas possíveis de se existir. Como se o motor continuasse a funcionar com todas as peças em lugares distintos. Sem literalidade, em relações que podem vir da cor, da forma ou da textura do material, do desenho, livres e soltas, nos encontramos em um universo de conexões possíveis entre detalhes mínimos de pedaços "descartados" do mundo, que agora assumem vital importância em um sistema inter-relacional. Entre lixos de "caçamba", material de construção descartado, tecidos recortados, desbotados e colagens beirando o absurdo, realizadas de maneira quase displicente, tudo volta a fazer sentido junto. Nesse novo momento vivido na residência da Cite Internationalle des artes, em Paris, a artista constrói esse universo de relações a partir de materiais coletados nos ateliês de outros artistas, dado significativo para a compreensão desse universo (re)criado a partir de um grande plástico translúcido usado como proteção de piso por uma das artistas em seu ateliê. Um plástico quase transparente, com manchas de tinta, que paira como uma grande névoa intergalática sobre a parede, que cobre, abraça e é atravessado por muitos dos outros elementos que orbitam um centro um centro indecifrável. São manchas de tinta, pedaços de um catálogo pantone e de mostras de um catálogo de tecido, pequenos tecidos pintados, outros pedaços de plástico costurados de forma bem evidente. Nesse movimento cíclico, somos levados por esse giro que leka propõe em seu universo, onde cada peça coletada, fruto de algum descarte, assume papel importante na sua configuração. Mas o mundo continua a girar. E, em um movimento natural dos olhos e de nosso cérebro juntos, cada elemento, que antes compunha esse sistema, passa a voltar para o mundo de onde saiu. Passamos a reconhecer essa origem mundana de cada uma desses objetos. Aí está, penso eu, a magia da operação e da chave política na prática de Leka Mendes, que nos obriga a reconhecer nossa própria realidade nesses pequenos objetos descartados, nos fazendo enxergar como parte desse todo. São possibilidades de conexões em tudo e ao mesmo tempo perceber alguma espécie de falência ou de ruína de nossos próprios universos.
O mundo gira. Nós giramos junto? Há algum tipo de delay entre nós e o mundo, vide a forma catastrófica como nos relacionamos com os recursos do planeta. Mas essa é só uma maneira de notar o evidente descompasso entre os giros dissonantes dos seres humanos com o mundo. Há muito, mas principalmente a partir da herança iluminista, nos dissociamos na forma de girar do resto do universo. Fosse essa uma maneira de reconhecer nosso próprio movimento rotacional como algum tipo de giro que se faz único mas que contribui dentro de um contexto para um giro maior... mas o fato é que nos distanciamos da visão que pode nos enxergar como parte de um todo. O ser humano se encontra em um momento único da história, onde a retomada de sua conexão com o natural se mostra cada vez mais incontornável para continuidade da sobrevivência de nossa espécie. O Trabalho de Leka Mendes nos faz lembrar de que tudo que existe está conectado, faz parte de um universo maior, funciona como uma peça de um motor ou de quebra cabeças. Mas não como peças que pertecem a um lugar específico, como em um motor ou um quebra cabeças e que poderiam ser consideradas em lugar "errado" quando fora de sua posição supostamente designada quando este quebra cabeças ou esse motor se encontrassem, por exemplo, desmontados. Pelo contrário, com suas analogias a sistemas solares, planetas, galáxias e quem sabe a sistemas de classificação, relações químicas, biológicas, sociais... Leka nos faz voltar a um tempo onde tudo pode, novamente, fazer sentido em conjunto. O quebra cabeças existe montado, semi montado e completamente desmontado, são todas formas possíveis de se existir. Como se o motor continuasse a funcionar com todas as peças em lugares distintos. Sem literalidade, em relações que podem vir da cor, da forma ou da textura do material, do desenho, livres e soltas, nos encontramos em um universo de conexões possíveis entre detalhes mínimos de pedaços "descartados" do mundo, que agora assumem vital importância em um sistema inter-relacional. Entre lixos de "caçamba", material de construção descartado, tecidos recortados, desbotados e colagens beirando o absurdo, realizadas de maneira quase displicente, tudo volta a fazer sentido junto. Nesse novo momento vivido na residência da Cite Internationalle des artes, em Paris, a artista constrói esse universo de relações a partir de materiais coletados nos ateliês de outros artistas, dado significativo para a compreensão desse universo (re)criado a partir de um grande plástico translúcido usado como proteção de piso por uma das artistas em seu ateliê. Um plástico quase transparente, com manchas de tinta, que paira como uma grande névoa intergalática sobre a parede, que cobre, abraça e é atravessado por muitos dos outros elementos que orbitam um centro um centro indecifrável. São manchas de tinta, pedaços de um catálogo pantone e de mostras de um catálogo de tecido, pequenos tecidos pintados, outros pedaços de plástico costurados de forma bem evidente. Nesse movimento cíclico, somos levados por esse giro que leka propõe em seu universo, onde cada peça coletada, fruto de algum descarte, assume papel importante na sua configuração. Mas o mundo continua a girar. E, em um movimento natural dos olhos e de nosso cérebro juntos, cada elemento, que antes compunha esse sistema, passa a voltar para o mundo de onde saiu. Passamos a reconhecer essa origem mundana de cada uma desses objetos. Aí está, penso eu, a magia da operação e da chave política na prática de Leka Mendes, que nos obriga a reconhecer nossa própria realidade nesses pequenos objetos descartados, nos fazendo enxergar como parte desse todo. São possibilidades de conexões em tudo e ao mesmo tempo perceber alguma espécie de falência ou de ruína de nossos próprios universos.




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