Pós-revelado
2014 - em andamento
“….São da ordem da convivência: imagens para conviver, que revelam novos sentidos a cada encontro. São como obras de ficção. Em um livro de não-ficção, espera-se encontrar a realidade descrita fidedignamente. Porém, como se sabe, qualquer enquadramento do real é enganoso, por ser sempre um ponto de vista. Construído. Fabricado. Já na literatura ficcional, o leitor sabe estar diante de um mundo imaginário; espera encontrar ali uma narrativa que não corresponde a pessoas ou situações reais; mas, como dizia Virginia Woolf, “é mais provável que a ficção contenha mais verdade do que o fato”. Fabricando realidades inexistentes, o artista chega mais perto do real. E assim ocorre com as imagens de Obras de Ficção.
A pesquisa de Leka Mendes, por exemplo, parte de fotografias feitas por ela em museus de história natural, zoológicos, aquários e parques artificiais. Algumas das imagens são apropriadas – um slide do avô, uma imagem do parque aquático Tropical Island Resort, em Krausnick, na Alemanha, encontrada na internet. Todas as fotos são equalizadas por meio da impressão em preto-e-branco sobre papel algodão. Em seguida, as imagens são submetidas a diversos banhos em bandejas com tinta acrílica, como em um processo de revelação tradicional – substituindo o processo químico por um procedimento pictórico. O controle limitado que a artista tem da fixação de camadas de cor no papel, aliado a um aprimoramento, ao longo de quase dois anos, desta técnica que ela chama de “pós-relevação”, resulta em um sofisticado discurso acerca da artificialidade.
Artificialidade que está tanto nas imitações de natureza retratadas nas fotografias quanto no efeito “envelhecido” que Leka imprime às imagens, assim como em certa gestualidade fantasmagórica que envolve em névoa estas fotopinturas misteriosas…..
(Juliana Monachesi em texto da coletiva "Obras de ficção”, na galeria Arte Hall, 2016)