Ênfase _ individual simultânea
Galeria Fauna, 2016
Leka Mendes e Roberto Vietri
A casa, com a árvore e o sol – geralmente esses são elementos dos primeiros e mais frequentes desenhos das crianças. A casa é o espaço de resguardo, onde ficam a mesa, a cama e o fogão, sinônimos de acolhimento. As paredes externas e o teto da casa nos protegem, para que não nos dissolvamos na vastidão da terra. O trabalho da Leka, artista que também começou na fotografia, abarca imagens fotográficas de pequeno a médio porte, que podem aparecer tingidas com tinta, coladas ou sobrepostas. Vez ou outra, são apresentadas apenas como fotos, que podem vir acompanhadas ou não de coisas coletadas nos lugares de origem dessas imagens: pedras, fragmentos de magma resfriado ou mesmo vestígios deixados pelas pessoas. Quando as próprias fotografias não são também objetos apropriados pela artista. Existe uma geografia nisso, que claramente está dentro do campo de interesses da artista. As imagens quase sempre são de paisagens desoladas, mas o desolamento aqui não é sinônimo de feiura, pelo contrário, existe uma beleza que é inóspita, com um tempo que não é o da medida humana, selvagem, vasto - como se a artista estivesse querendo nos lembrar do tamanho da nossa arrogância e impotência diante do poder e da grandeza da natureza. A foto montagem que Leka apresenta na exposição, com a imagem da casa soterrada possivelmente por um cataclismo vulcânico e apenas com o teto a mostra, inevitavelmente conecta-se ao belíssimo trecho da narrativa O retábulo de Santa Joana Carolina, do escritor Osman Lins, cotejada no topo deste parágrafo. Mas o que nos instiga no trabalho, mesmo com a possibilidade deste insight reconfortante contido no texto do escritor, é que Leka parece nos alertar, como uma alegoria aos tempos atuais, que não temos saída, que esse será o nosso inevitável fim, o apocalipse, merecido destino. Mas ainda assim, ela termina nos dizendo que é sobre os escombros desse lugar da destruição que retornamos para nos reconstruirmos.
Rodrigo Linhares